27 de outubro de 2011

Manifesto do Desassossego

Aqui e agora nos apresentamos.
Nestas linhas deixamos o nosso manifesto.

Iniciaremos um novo movimento;
um movimento de reflexão, um movimento que desperta consciências, um movimento de intervenção, um movimento social.

Não partimos de teorias assumidas, mas sim de convicções fortes.

Aqui não existem formas de expressão que, sobranceiramente, se sobrepõem a outras. Cada uma tem a sua importância, na parte que representa.
Aqui não nos fechamos entre quatro paredes.

Vivemos numa era em que, a cada dia, a cada hora, a cada instante, a arte se redefine.

Nos últimos anos assistimos ao nascimento de algumas novas formas completamente ocas, sem mensagem alguma, levando a que estas deixem de ser uma expressão social, em que o artista exprime as suas convicções culturais, sociais ou os seus ideais, para se colocarem numa esfera sociocultural, dita, superior, na qual os artistas e seus seguidores se inserem numa “socialite”, tornando a arte numa forma de discriminação social.

Opomo-nos à arrogância elitista de muitos artistas.
Acreditamos que eles devem servir a comunidade e não o contrário.

A arte é liberdade. A arte é escolha de técnica, forma e mensagem.
Apelamos ao uso de qualquer técnica artística, sem nunca esquecer que sem mensagem não existe arte. Defendemos que a liberdade é uma obrigação social e como tal deverá sempre ser defendida pelos artistas.

Afirmamos que a publicidade, quando virada para a obtenção de lucro e resultados, não poderá ser classificada como uma forma de arte, pois é corrompida pela ideia da obtenção de riqueza, não prestando um serviço à comunidade.
As formas como a publicidade chega ao público evoluíram e, em muitos casos, transformaram-se em meios de venda violentos e sem escrúpulos, onde o que importa é somente o lucro, mesmo tendo a noção que poderão estar a sobrevalorizar e a deturpar produtos ou serviços, enganando, descaradamente, o público, mesmo que, em certos casos, esses mesmos produtos e serviços prejudiquem o consumidor.

Opomo-nos àqueles falsos mensageiros da comunicação social que, não sendo especialistas nas matérias que abordam, dão-se ao direito de proclamar o que melhor lhes convém, enganando o receptor leigo, que não está preparado para se defender contra tal violência informativa. Aqui falamos dos falsos jornalistas, dos falsos comentadores ou apenas daqueles que têm direito de antena sem mais valia. Aqui falamos das mensagens transmitidas, cujo único objectivo é falsificar, enganar, atrair ou vender. Aqui falamos daqueles canais de comunicação que já não informam e educam, mas enganam e lucram.

Somos contra a ditadura cega da economia, dos grandes banqueiros e dos grandes empresários que financiam as campanhas eleitorais de quem nos representa, em proveito próprio, deturpando os valores essenciais da democracia.
Somos contra a ditadura cega da economia, dos grandes banqueiros e dos grandes empresários que controlam o social pelo poder monetário e pelo medo, que apenas analisam números e percentagens, mas não o essencial: as pessoas.

É certo que a globalização trouxe benefícios, no entanto, manifestamo-nos contra a extinção das identidades pessoais, assim como contra a total homogeneização sociocultural, que cria um mundo onde o povo perde a sua identidade local, transformando-se num pólo capitalista, igual a qualquer outro. Pensar global, agir local para a obtenção de lucros, mesmo que inclua a destruição das identidades locais.

Manifestamo-nos contra a hipocrisia moral daqueles que, de forma escandalosa, apelam a falsos valores divinos para enganar, violentar e usar. Muitos usam a religião em seu proveito desvirtuando os próprios valores em que estas se baseiam (a paz, a harmonia, o amor, a compaixão, a ajuda ao próximo, o bem da humanidade). Somos contra as novas tendências religiosas baseadas na mentira fácil, que visam, apenas, a obtenção do lucro instantâneo. Opomo-nos a eles!

Valorizamos a consciência pela luta social e pela luta ecológica.
Opomo-nos às ideias do “deixa acontecer” defendida pela maioria, quando a maioria está bem consciente dos seus erros e daquilo que deve modificar para o bem do meio socioecológico onde se insere.
Valorizamos a luta pela igualdade absoluta, universal.

Também queremos dizer que o Homem não se pode julgar como um “Criador” na Terra.
Como qualquer outra espécie viva, o Homem tem o seu espaço individual e global.

Assumindo tais premissas, não podemos esquecer-nos que somos apenas uma fase na evolução, nem somos o produto final, nem ideal, aliás, visivelmente estamos ainda bem longe disso.

Como tal, não somos donos da Natureza. Como tal a Natureza, ela sim, é dona da humanidade.

Estagnamos na nossa evolução quando deixamos de dar importância ao nosso desenvolvimento e ao bem-estar social para sobrevalorizar os ocos cultos da “fama” e do “dinheiro”. Durante o curso natural das coisas, tornamo-nos pessoas que têm como único objectivo desperdiçar, sem ter qualquer preocupação com o próximo.

Obviamente, que a sociedade perfeita não é aquela onde reina o poder monetário, nem a mentira.
Obviamente, que a sociedade perfeita não é aquela onde são gastas fortunas em armamento e conflitos, quando deve prevalecer a paz e a diplomacia e quando existe uma imensa precariedade em áreas como a saúde, a educação e o emprego.
Obviamente, que a sociedade perfeita não é aquela que esconde os seus problemas por detrás da enganadora comunicação social, que nos satura com toda a sua imprensa, dita cor-de-rosa, cheia de nada.
Obviamente, que a sociedade perfeita não é aquela que se dirige vertiginosamente para a auto-destruição.

Por tudo isto, iniciaremos um novo movimento; um movimento de reflexão, um movimento que desperte consciências, um movimento de intervenção, um movimento social onde não há fronteiras para a arte, mas em que esta tem uma mensagem fundamental e um papel activo no desenvolvimento da sociedade que, neste momento se encontra moribunda, e necessita de despertar.

Aqui e agora emergimos.

Lisboa, 16 de Setembro de 2010